segunda-feira, 7 de abril de 2014

Terão os animais interesse em viver?

Há pessoas que admitem que o ato de matar animais é mal para eles, mas argumentam que este é um mal menor comparado aos benefícios que recebemos. Esta é uma posição confortável, mas que pode ser refutada. 

Mas em outros casos (mais frequente do que imaginamos)  o que se diz não é isso, mas sim que não é errado matar animais. Para sustentar esta afirmação argumenta-se que só os seres humanos têm um real interesse em viver, ou que o interesse de viver dos animais, é mínimo. Assim, pode-se concluir que matar animais não é realmente muito problemático, porque a morte não lhes causa grande dano.

Os motivos pelos quais se defende isso são variados: diz-se que os animais não têm um desejo consciente de viver, que não podem fazer planos a longo prazo, que não podem imaginar a sua vida no futuro, que não têm suficiente complexidade psicológica ao longo do tempo. Se esses argumentos fossem corretos, então então não haveria motivos para se opor a matança de animais.

A questão que se coloca é: será realmente assim?

Intuitivamente, parece que não. A maioria acredita que para os animais não-humanos morrer é ruim, assim como é no nosso caso. No entanto, as intuições, muitas vezes nos falham, e por isso não pode ser uma razão convincente. No entanto, as nossas intuições não são a única coisa que pode nos levar a argumentar que animais sencientes têm interesse em viver. Há uma explicação que não é muito complicada por isso pode-se concluir que.

Para todos os seres com capacidade de sofrer e desfrutar é mal ter experiências negativas (por exemplo, dor, vergonha, medo, etc.). Isto é assim por definição, por isso é chamado de experiências negativas, senão não poderiam ter esse nome. Ou seja, chama-se  experiência negativa  toda a experiência que é negativa para aqueles que a têm, é realmente tão simples quanto isso. Para uma experiência que não prejudique alguém, não podemos chamar de "negativo". E o mesmo passa-se ao pensarmos numa experiência positiva (como um prazer, uma sensação de felicidade, um sabor delicioso ...). Se recebe esse nome é porque essa experiência afeta positivamente quem a tem..

No entanto, existem situações, eventos ou ações que podem beneficiar ou prejudicar-nos, não porque constituem experiências boas ou ruins, mas porque têm consequências que nos afetam. Podem nos afetar para o bem ou para o mal. Como? Bem, por exemplo, se, como resultado delas, coisas boas ou ruins nos aconteçam. Ou de outra forma: impedindo essas coisas boas ou ruins de acontecerem conosco.

Por exemplo, suponhamos que sofro uma dor fortíssima e alguém me administra algum tipo de tratamento que é inofensivo. O tratamento não causa, por si só, nem o prazer nem a dor, mas graças a ele uma grande dor desaparece completamente. Parece claro que podemos dizer que o tratamento foi positivo para mim. Por quê? Só porque evitou que continuassem sofrendo a dor, que é negativo.

Agora, suponha que alguém envia-me por correio secretamente um presente que vai me deixar maravilhado e eu vou gostar muito. No entanto, eu não chego a receber o presente: alguém rouba-o sem que eu saiba. Então, eu não cheguei a saber nem que iria receber um presente, nem que mo tenham roubado. Mesmo assim, faz todo o sentido dizer que a pessoa que me roubou  me causou mal. Por quê? Porque com o roubo impediu-me de desfrutar todas as coisas positivas que o presente teria teria me proporcionado.

É por esta razão que esses fatos ou circunstâncias que nos impedem de desfrutar de coisas positivas nos afetam negativamente. E é por esta razão que a morte é um mal. A morte impede-nos de ter experiências positivas no futuro.

Perante tudo isto, quem podemos dizer que têm interesse em viver? Todos aqueles seres que têm a capacidade de ter experiências positivas. A morte é um mal para eles, pois evita que possam ter essas experiências.

Por outro lado, esses mesmos motivos são os que nos explicam que a morte pode ser também  desejável em certos casos. Quando? Pois, quando o que nos espera na vida nada mais é do que sofrimento, ou uma quantidade de sofrimento que não  nos compensa outras coisas que pudéssemos viver. Como a morte nos impede de desfrutar de coisas positivas, também impede que soframos as negativas. Então, a morte pode ser desejável quando o que nos espera se não morrer não é positivo, mas negativo.

Assim, em última análise, para que a morte seja um dano para alguém só é necessário que esse alguém possa desfrutar. Não é necessário ter um desejo consciente de viver. Um animal com uma mente muito simples, pode não ter  esse desejo e ainda assim ser capaz de desfrutar de coisas que acontecem. Se assim for, o animal terá um interesse na vida. E, por isso, não é necessário que o animal tenha capacidades psicológicas complexas. Não é relevante que faça planos a longo prazo, ou que possa imaginar-se no futuro, etc. É suficiente que a morte faça com que este ser não desfrute no futuro.

Por isso, afirmamos que todos os animais com capacidade para desfrutar têm interesse em viver. Por isso, sua morte é uma coisa ruim para eles. Como vimos, existem excepções, tanto para seres humanos como para os outros animais, quando na vida o que nos espera não é prazer, mas o sofrimento, ou pelo menos mais sofrimento do que prazer. Nesses casos, morrermos é positivo. Mas, em outras circunstâncias, matar animais sencientes causa-lhes um grande dano.

texto completo em espanhol:
http://masalladelaespecie.wordpress.com/2013/09/09/el-argumento-de-por-que-los-animales-sintientes-tienen-un-interes-en-vivir/

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