A principal razão pela qual as pessoas em países ricos continuam a comer carne é porque apreciam o gosto (e textura). As questões de saúde são em geral secundárias. Portanto, nosso real motivo é voracidade. Quando levamos em consideração o medo e a dor de milhões de animais envolvidos no comércio de carnes (que se desenvolve devido à demanda), como é possível de fato desfrutarmos de comer carne? O que estamos comendo é terror e desespero. Todos que têm animais de estimação sabem que os animais têm emoções e sentimentos como nós. São seres inteligentes, ainda que não possam nos falar diretamente sobre suas expectativas e medos. Olhem dentro de seus olhos.
Usar a desculpa de que os animais que você cozinha são provenientes de fontes “eticamente” responsáveis, seria como oferecer boas refeições e um ambiente confortável a alguém – mas com a intenção de matá-lo ao final.
Como disse George Bernard Shaw: “Os animais são meus amigos e eu não me alimento de amigos”.
~ Jetsunma Tenzin Palmo
(Tradução Jeanne Pilli)
Verdadeiro Destemor, por 17º Karmapa.
”Compaixão envolve mais do que simplesmente conhecer uma situação difícil.
Mesmo testemunhar diretamente a dor não garante uma reação compassiva. Eu mesmo observei isso enquanto assistia a um documentário em que animais eram pendurados de cabeça para baixo para ser abatidos. Como suas gargantas foram cortadas , o sangue jorrou e suas pernas repuxavam em terror e dor. Foi extremamente difícil de assistir – insuportável, mesmo. Mas, como os açougueiros serraram os pescoços dos animais para priva-los da vida, os homens estavam rindo e brincando. Eles poderiam, obviamente, ver os movimentos dolorosos dos animais e ouvir seus gritos – o sofrimento era visível e audível – mas eles não pareciam reconhecer que estes eram sinais de uma dor terrível. E mesmo se os açougueiros reparassem que estavam infligindo dor, o sofrimento dos animais não correspondia a nada para eles. Eles trataram como se estivessem assistindo a um show.
De fato, algumas pessoas até matam animais como uma forma de recreação. A caça é considerado um esporte em algumas culturas, não é? Algumas pessoas parecem acreditar que é corajoso matar animais. Infelizmente, hoje em dia, temos desenvolvido o tipo errado de destemor – destemor em prejudicar os outros . Em algum momento, essa “coragem” em prejudicar os outros nos transforma. Como pessoas que se tornam habituadas em tirar a vida de animais sem pensar a dor que estão causando, por fim, prejudicam e matam seres humanos facilmente. Mesmo a dor de nossos companheiros seres humanos pode deixar de chamar nossa atenção.
A verdadeira coragem que vem da compaixão é muito distante desta. Quando a compaixão está presente, não se esquece a dor dos outros. Pelo contrário, há um senso de urgência para acabar com essa dor, como se um fogo fosse aceso bem debaixo de você . Quando você tem essa compaixão, assim que você vê o sofrimento, você deseja saltar para cima e agir para acabar com isso de uma só vez. Você não teme e não hesita em assumir o sofrimento de outras pessoas, animais e até mesmo do próprio planeta. Isto é o que eu chamaria o tipo certo de destemor. Este é o destemor de verdadeiros heróis.”
Direito dos animais: “eles têm a qualidade idêntica aos homens”, por Matthieu Ricard
Matthieu Ricard: Os animais são seres sencientes, que tem um direito natural de não sofrer ou pelo menos que não os levemos ao sofrimento. É preciso ser cego para não ver que os animais têm as qualidades idênticas aos homens: empatia, bondade, cuidado com os outros seres… Assim, não podemos tratá-los como robôs ou objetos.
O que este reconhecimento poderá implicar?
Reconhecer que são seres sencientes implica na maneira como nós os tratamos. A maldade já é punida por lei. Mas quando se trata de exploração industrial, a lei é muito ampla. Por exemplo, 20 % dos animais enviados à matadouros ainda estão conscientes no momento em que eles são cortados em pedaços. Isto é inadmissível. Sendo considerados como objetos, é uma desculpa fácil de usar a nosso critério. Os humanos matam 1 milhão de animais terrestres e cinco vezes mais de animais marinhos a cada ano. É preciso ver a verdade. Não pode-se ter uma sociedade mais ética deixando de fora uma seção inteira da vida, que são animais.
É preciso, então, acomodar todos os animais no mesmo barco?
Claro, eles são seres sencientes. É preciso reconhecer todos eles como tais. Pessoalmente, eu não faço diferença entre uma vaca e um cachorro. Os porcos são, de certa maneira, mais inteligentes que os chimpanzés, por exemplo. E se os peixes não têm expressão facial, eles têm um mesmo sistema nervoso que faz com que eles sintam dor. Não se pode negar.
Como a religião budista vê os animais?
Como um ser senciente que não têm a mesma sofisticação do homem – chamado de inteligência – mas como ele tenta evitar o sofrimento e atingir o bem-estar. Esta aspiração deve ser respeitada. Neste sentido, a não violência frente aos os animais é uma extensão lógica do que defendemos para os seres humanos.
Matéria publicada na Revista Bodisativa: http://bodisatva.com.br/direito-dos-animais-eles-tem-a-qualidade-identica-aos-homens/
Vegetarianismo budista, por Monge Gensho.
Pergunta: É necessário comer carnes?
Resposta: Se fosse necessário eu estaria morto ou doente… Meu pai era vegetariano e não comi carnes toda a minha vida de 63 anos. Uma dieta com produtos de origem animal sem carnes,nem peixes, é perfeitamente completa, dizer o contrário é falta de informação nutricional em que incorrem mal preparados nutricionistas e médicos.
Os mosteiros zen tem há já 1400 anos uma tradição de comida estritamente vegetariana, desde que se estabeleceram na China, e sabe-se que os monges zen em mosteiros vivem longamente e com lucidez. O fato de o budismo não ser vegetariano como regra não altera estes fatos simples. ergunta – Uma coisa em que eu penso muito é sobre o consumo da carne. Não é mais somente uma coisa de propaganda. Antes eu pensava que era um hábito de família. Mas se formos observar a pirâmide alimentar dos nutricionistas, a base é carne e derivados de animais. Se for ao médico, ele lhe dirá para comer carne. Meu pai, por exemplo, ficou anos sem comer carne, então teve um problema de saúde, e o médico o assustou tanto, que ele voltou a comer carne. Existe algo além da mídia, é algo da ciência mesmo.
Monge Genshô – O que existe é um sistema de crenças, e ele irá variar. Por exemplo, nós sabemos que nos mosteiros Zen budistas, desde o tempo da China – ou seja, há mil e quatrocentos anos – se desenvolveu uma cozinha vegetariana, porque não se podia matar nos mosteiros e na China a mendicância era proibida. O resultado final dessa cultura é que no Japão, por exemplo, o consumo de carne de mamíferos é uma coisa recente, tem apenas cento e poucos anos. Antes disso, comer carne era uma coisa absurda. Comiam bastante peixe, mas jamais carne de caça ou de bois e porcos. O resultado disso foi a longevidade; a tradição nos mosteiros Zen é de longevidade com lucidez, e dificilmente você vê alguém gordo, pois ali comem muitos vegetais e grãos. Mas um monge pode aceitar carne se lhe é oferecida, não pode aceitar que alguém se proponha a matar um animal com o fim de alimenta-lo, esta proibição vem desde o Vinaya (código de regras monásticas) mais antigo.
Aluno – Acho que já está na hora do meio científico começar a divulgar isso…
Monge Genshô – Eu acredito que já haja algumas correntes que fazem esse trabalho.
Aluno – Parece que todo o modelo de consumo leva para a carne, não existe um financiamento de pesquisa contra o consumo de carne.
Monge Genshô – Porque nas faculdades é ensinado assim, há um lobby industrial forte, mas existem outras correntes que questionam isso, já temos literatura a esse respeito. O máximo que posso oferecer é meu exemplo pessoal: não como carne há mais de sessenta anos, meu pai era vegetariano, fui criado numa casa onde até o cachorro era vegetariano, pois naquela época não se dava ração e ele comia o resto da nossa comida. E lembro que quando viajávamos e deixávamos o cachorro com minha avó, quando voltávamos, ele estava gordo. O cachorro pode viver sem carne, mas é essencialmente carnívoro. Sua arcada dentária é completamente diferente da nossa, por exemplo, que é semelhante à dos macacos frugívoros. Não temos dentadura típica de um animal carnívoro; nossa mandíbula é diferente também com movimentos laterais. Mas o budismo não está focado nessa questão, não é necessário ser vegetariano ou vegano se você é budista.
O foco do budismo é o sofrimento, devemos tentar diminuir o sofrimento que causamos ao viver. Mas quando um monge é convidado a uma casa come o que lhe oferecem sem nada dizer. Quando mendiga e recebe comida também. Manter uma mente discriminativa e orgulhosa, achando-se superior por não comer carne é visto como uma atitude não compassiva.
( Mais respostas podem ser encontradas em www.daissen.org.br na secção “Perguntas”)
- A ONU pediu que se reduzisse em 50% o consumo de carne para a viabilidade alimentar da população planetária.
- Quase 70% do desmatamento da Amazônia é para a pecuária (animais e vegetais foram exterminados aos bilhões)
- Cada pessoa carnívora mata (diretamente), em média, 95 animais/ano (não considerando os animais aquáticos).
- A cada 5 dias se mata mais animais para consumo do que o total de pessoas que foram mortas em todas as guerras da história.
- Se sabe cientificamente que vacas, porcos e cachorros tem inteligência emocional e intelectual muito semelhante à de crianças de 3 anos.
http://www.budavirtual.com.br/o-sofrimento-dos-animais-degradacao-planeta-e-vegetarianismo/
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