domingo, 28 de julho de 2013

PEIXES



Inteligência dos Peixes

Em 1992, apenas 70 artigos relatavam a aprendizagem dos peixes. Atualmente existem cerca de 640. Nunca o nosso conhecimento sobre um qualquer animal foi tão rápido e profundamente revisto.

Os peixes fazem ninhos complexos, têm relações monogâmicas, caçam cooperativamente com outras espécies e servem-se de ferramentas. Reconhecem-se enquanto indivíduos (e registam quem é de confiança e quem não é). Tomam decisões individuais, analisam o prestigio social. Têm uma memória a longo prazo significativa, são competentes na transmissão de conhecimentos entre si, através de redes sociais, e também transmitem informação entre gerações. Possuem ainda quilo a que a literatura científica chama "tradições culturais" duradouras para percursos específicos para alimentação, aprendizagem, repouso ou locais de acasalamento ".


shrimp fishing | © foto fitis, sytske dijksen
A pesca moderna costuma envolver muita tecnologia e poucos pescadores. Esta combinação leva a capturas maciças com quantidades impressionantes de captura incidental. 


O camarão por exemplo. A operação média de pesca de camarão por arrasto deita borda fora 80 a 90% doa animais marinhos que captura, mortos ou moribundos, como captura incidental (grande parte corresponde a espécies em risco). O camarão representa apenas 2% do total em peso dos animais marinhos para consumo, mas a pesca por arrasto de camarão representa 33% das capturas incidentais globais. Regra geral não pensamos nisso. E se a nossa comida ostentasse rótulos a informar quantos animais foram mortos para que o animal que desejamos nos chegue ao prato? Por ex: o camarão traria um rótulo que diria: POR CADA QUILO DESTE CAMARÃO FORAM MORTOS E LANÇADOS DE VOLTA AO OCEANO 26 QUILOS DE OUTROS ANIMAIS MARINHOS.




Ou então pensemos no atum. Entre as outras 145 espécies mortas regularmente - e gratuitamente - enquanto se mata o atum temos: manta, manta-do-pacífico, peixe-areia, tubarão-de-nariz-comprido, tubarão cobre, tubarão dos galápagos, cação-baleeiro, tubarão da noite, tubarão-touro, tubarão-branco, tubarão-martelo, raposo-olhudo, anequim, tintureiro,cavala-da-india,veleiro, palmeta, serra-real, serra-espanhola, marlim-bicudo, marlim-branco, espadarte, lirio-ferro, cangulo-cinzento, agulhão, xaputa, xaréu-azul, liro-preto, dorada-do-mar, linguado, peixe-ouriço, fogueteiro arco-íris, anchova, mero, peixe-voador, bacalhau, cavalo-marinho, preguiçosa-branca, peixe-cravo, escolar-preto, palombeta-furriel, tamboril americano, anjo, peixe-lua, moreia, peixe-piloto, escolar-real, cherne, cavala, rainha...e outros 43 mais.

Imagine que lhe servem um prato de sushi. No entanto, esse prato também traz todos os animais que foram mortos para ter a sua dose de sushi. Talvez fosse preciso que o prato tivesse um metro e meio de diâmetro.


Muitos dos animais marinhos que consumimos, incluindo a grande maioria do salmão, chega-nos da aquicultura. Inicialmente, a aquicultura apresentou-se como sendo uma solução para a diminuição da população de peixes selvagens. No entanto, longe de reduzir a procura por salmão selvagem, a criação de salmão veio, pelo contrário, acelerar a exploração e a procura internacionais por salmão selvagem.

Segundo a "Manual de cultura do salmão", um manual da indústria, elenca seis "factores srtessantes essenciais no ambiente da aquicultura": "qualidade da água", "quantidade", "tratamento", "distúrbios", "nutrição" e "hierarquia". Traduzindo estes termos para uma linguagem comum, as seis fontes de sofrimento para os salmões são:

1) Água tão suja que é difícil respirar

2) Uma quantidade de peixes tão elevada que os animais começam a canibalizar-se uns aos outros

3) Um tratamento tão invasivo que a noção fisiológica de stress se torna evidente no dia a seguir

4) Distúrbios provocados pelos trabalhadores e por animais selvagens

5) Deficiências nutricionais que enfraquecem o sistema imunitário

6) Incapacidade de formar uma hierarquia social estável e que tem como resultado mais canibalização.



Uma fonte de sofrimento importante para os salmões e outros peixes de criação é a presença abundante de piolhos-do-mar, que prosperam na água imunda. Esses piolhos criam chagas abertas e por vezes comem até aos ossos da cara do peixe - um fenômeno tão comum que é conhecido na indústria como "coroa da morte". Uma única unidade de criação de salmões dá origem a nuvens de piolhos-do-mar em número trinta mil vezes superior ao registado a nível natural.
14salmon.650.jpg
Sea Lice Farmed Salmon

sea lice infested salmon



Os peixes que sobrevivem a estes problemas irão passar fome sete a dez dias, para diminuir as excreções corporais durante o transporte até ao abate, onde são mortos cortando-lhes as guelras antes de serem atirados para um tanque de água onde se esvaem em sangue. Com frequência os peixes são abatidos quando estão conscientes e sofrem convulsões de dor enquanto morrem. Em outros casos, poderão ser atordoados, mas os métodos de atordoamento não são de confiança e podem levar á um sofrimento ainda mais atroz por parte dos animais. À semelhança do que acontece com os perus e com os frangos, não há lei que exija o abate humano dos peixes.




Serão os peixes capturados em estado selvagem uma alternativa mais humana? Certamente tem uma vida melhor antes de serem pescados. Mas tenhamos em consideração as maneiras mais habituais de captura dos animais marinhos: pesca com espinhel, pesca de arrasto, e rede de cerca. 



O espinhel parece uma linha telefônica que percorre a água, suspensa por boias em vez de postes. A intervalos periódicos penduram-se nesta linha principal pequenas linhas secundárias - cada linha está carregada de anzóis brilhantes. Agora imagina não apenas um destes espinhéis repletos de anzóis, mas dezenas ou centenas, esticados um após o outro por uma única embarcação. E claro, não há apenas um barco a lançar espinhéis, mas dezenas, centenas, até mesmo milhares, nas maiores frotas comerciais.
Os espinhéis atuais podem atingir 120 quilômetros  Estimam-se que todos os dias se lancem 27 milhões de anzóis. E os espinhéis não matam apenas as "espécie-alvo", mas também outras 145. Um estudo descobriu que aproximadamente 4,5 milhões de animais marinhos são mortos todos os anos como captura incidental na pesca com espinhel, entre eles cerca de 3,3 milhões de tubarões, um milhão de marlins, 60 mil tartarugas marinhas, 75 mil albatrozes e 20 mil golfinhos e baleias.




Todavia, nem mesmo a pesca com espinhel produz a imensidão de capturas incidentais da pesca de arrasto. O tipo mais comum de arrastão moderno de camarão varre uma área com aproximadamente vinte e cinco a trinta metros de largura. A rede de arrasto é puxada ao longo do leito do oceano a uma velocidade entre 4,5 e 6,5 quilômetros por hora, durante várias horas, arrastando camarão (e quase tudo o resto) para a extremidade de uma rede em forma de funil. A pesca de arrasto, quase sempre de camarão, é o equivalente marinho do abate da floresta tropical. Seja qual for o alvo, os arrastões apanham peixes, tubarões, raias, caranguejos  lulas, vieiras, geralmente cerca de uma centena de peixes e outras espécies diferentes. Praticamente todas morrem.

Este estilo de "recolha" de animais marinhos equivalente à "terra devastada" tem qualquer coisa de bastante sinistro. A operação de arrasto média lança borda fora 80 a 90% dos animais marinhos que são capturados incidentalmente. As operações menos eficientes acabam por devolver mortos ao oceano mais de 98% de animais marinhos capturados.

Estamos a reduzir a diversidade e a ressonância no seu todo (algo que só recentemente os cientistas começaram a avaliar). As técnicas de pesca moderna estão a destruir os ecossistemas que garantem o sustento de vertebrados mais complexos (como o atum e o salmão), deixando apenas as poucas espécies capazes de sobreviver com plantas e plâncton.
A pesca de arrasto com espinhel não é apenas ecologicamente preocupante, é também cruel. Com os arrastões , centenas de espécies diferentes são comprimidas, cortadas nos corais, esmagadas nas rochas -durante horas - e depois retiradas da água, o que provoca uma descompressão dolorosa (por vezes a descompressão faz com que os olhos dos animais saltem, ou que os órgãos internos lhes saiam pela boca).


As redes de cerco, são a principal tecnologia usada para capturar o alimento marinho mais popular da América  o atum. Uma parede de rede é estendida em torno de um cardume do peixe-alvo, e assim que o cardume fica rodeado, o fundo da rede é unido. A espécie-alvo encurralada e quaisquer outras criaturas das redondezas são depois puxadas e despejadas para o convés.





 Os peixes emaranhados na rede podem acabar por ser desfeitos lentamente durante esse processo. No entanto, a maioria desses animais marinhos acabam por morrer já no navio onde sufocam lentamente ou onde eles cortam as guelras estando conscientes. Em certos casos, os peixes são colocados em gelo o que lhes pode mesmo prolongar a morte.



A que conclusão chegaria a maior parte dos omnívoros seletivos, se a acompanhar cada salmão de aquicultura consumido estivesse um rótulo que lembrasse que com 75 cm passa a vida no equivalente a uma banheira de água e que os olhos dos animais sangram devido à intensidade da poluição? E se o rótulo mencionasse as explosões de populações parasitas, os aumentos de doenças, a genética degradada e as novas doenças resistentes a antibióticos resultante da criação de peixes?


Fonte: livro "Comer Animais"
Imagens: Internet


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