sábado, 19 de julho de 2014


SEJA VEGAN E MUDE O MUNDO

O que têm Bill Clinton, Natalie Portman, Paul McCcartney, Moby ou Joaquin Phoneix em comum? São vegan, pelos animais e pelo planeta. Nenhum toca em alimentos de origem animal. Uma forma de vida ou uma moda? Leia e tire conclusões.

Por Filipa Veig

Na casa de Paula Pérez, os três animais fazem parte da família: o gato Valente e os dois cães, Simba eRomeu. São a alegria de Neusa e de Núria, as filhas de 15 e 12 anos. Lá em casa, os animais existem para serem bem tratados. “Sempre fui sensível ao sofrimento, humano e não humano, e desde pequena que contribuo para a minimização desse sofrimento”, conta a empresária e ativista pelos direitos dos animais.
COMA SAUDÁVEL E CONSCIENTE

. Encha o frigorífico de vegetais, de preferência biológicos (fazem toda a diferença)

. Tenha sempre vegetais crus na mesa – faça misturas coloridas e encha os olhos à família com saladas deliciosas

. Comece a comprar integral, use menos refinados

. Varie nas proteínas que consomeNão coma empacotados com longas listas de ingredientes

. Coma produtos que reconheça da natureza

. Use especiarias para condimentar a comida, esqueça os caldos e os molhos comprados – têm glutamato monossódico, MSG, que torna a comida viciante

. Seja feliz quando come

. Delicie-se com a sua comida e reconheça as diferenças na sua vida e no corpo!
Numa viagem a Nova Iorque entrou no Hard Rock Cafe e pediu o clássico hambúrguer. “Veio uma coisa gigante, fiquei chocada... e tive um clique”, conta Paula. Daí a deixar de comer carne foi uma garfada. Em três semanas aboliu também o peixe. O percurso natural foi deixar de ingerir todos os produtos de origem animal – como ovos, leite ou queijo – e passar a ser vegan.
Primeiro, pela ética. “O facto de consumir seres deixou de fazer sentido quando tomei consciência do sofrimento que envolvia.” Depois pelo ambiente. “A humanidade está a destruir este planeta. Temos uma responsabilidade para com os nossos filhos e as gerações futuras.”
Paula sabe do que fala. “A indústria alimentar intensiva – a somar à das peles – é das que mais sofrimento animal causa, para não falar do impacto ecológico que já é dos mais poluentes”, revela. Um estudo da FAO (United Nations Food and Agriculture Organization) alertou, em 2006, para o facto de a pecuária intensiva gerar mais emissões de gases de estufa do que todos os transportes do mundo. Trocado por miúdos, consumir um quilo de carne bovina equivale a viajar 250 quilómetros de carro. Agora multiplique pelos quilos de carne que tem em casa e reflita.
Paula pegou nos números e deu-lhes forma. Lançou uma marca de calçado vegan, a NAE - No Animal Explotation. “Como não existiam alternativas à pele, e sendo Portugal um país de fabrico de calçado por excelência, pensei que este projeto ia dar resposta a um nicho de mercado.” A NAE soma e segue, com a maioria da produção vendida fora de Portugal. “Temos um Norte da Europa muito recetivo, com outra consciência social. Em Portugal estamos a dar os primeiros passos.”
Ainda dá a cara pela vice-presidência do PAN, o Partido pelos Animais e pela Natureza, o mais novo partido político português. “Espero continuar a trabalhar na mudança de mentalidades e na transformação do mundo. Se cada um de nós o fizer, teremos um futuro melhor.”
Bruno Piairo Teixeira tem 37 anos e anda de skate há 21. Entre uma carreira profissional intensa, bandas e 2 blogues, usa o tempo que lhe sobra a informar-se sobre o funcionamento da indústria alimentar. Há 16 anos a solução foi enveredar pelo vegetarianismo. É vegan há 15. “Porque faz bem à saúde e me faz uma melhor pessoa.”
A certeza da convicção levou-o a tatuar no antebraço a palavra Veganismo. “Rodeada de flores, abelhas, libelinhas, borboletas e girassóis, tudo animais e plantas e flores rejuvenescedoras, em constante mutação e com uma energia vital para o ecossistema.”

Norteia-o o respeito pela vida animal e o desgaste da terra. “Foram razões sentidas de forma tão intensa que me fizeram pensar ‘eu tenho de mudar’, ‘eu posso mudar e não participar nisto’.” Chama a isto “a forma como são tratados os animais, como as florestas são dizimadas para a criação de gado render milhões de euros a uma indústria que lucra com a vida”. É um facto: as florestas da Amazónia são devastadas para pasto. Um relatório de junho de 2012 da Union of Concerned Scientists começa por alertar que a pecuária usa três quintos dos campos para produzir apenas 5 por cento das proteínas usadas.


Depois vem outra questão em que talvez poucos refletem. Bruno pergunta: será o homem um ser superior? “Muitos vegetarianos acreditam que não é ético tirar a vida a um animal para alimentar outro.” Muito menos para a indústria das peles. “A vida dos animais é deles. Os animais não são nossos para usar, vestir, explorar”, defende. Leonardo da Vinci já tinha dito algo semelhante: “Haverá um tempo em que os seres humanos se contentarão com uma alimentação vegetariana e julgarão a matança de um animal inocente da mesma forma como hoje se julga o assassínio de um homem.” É uma questão de mudar a perspetiva. “O homem pertence à terra, não é a terra que pertence ao homem”, diz Bruno.
DICAS

Nutricionista David Wolfe

Livro Living Foods for Optimal Health, Brian Clement

Documentários Forks over knifes eEarthlings

Movimento Segunda-feira sem carne
A família MacCartney tem chamado a atenção para o movimento. Stella só usa produtos vegan e não faz testes em animais. Sir Paul MacCartney adverte: “Se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos seríamos vegetarianos.” Bruno optou. “Saber e nada fazer é escolher o silêncio que fala muito alto, porque impacta com milhões de vidas por ano.”
A vegan Catarina Carrascalão Severino segue um lema. Somos o que comemos. “Os animais são alimentados de forma não natural, à base de rações, o crescimento é apressado e, por isso, acredito que a carne que se vende é pouco saudável.” Catarina zela pelo seu bem-estar. “Saber de onde vêm os produtos, comprar vegetais biológicos e gerir bem o consumo de proteínas” são as três chaves. Até porque está comprovado que uma alimentação sem proteínas animais é mais saudável, evita doenças cardiovasculares e é colesterol free. Um estudo da Organização Mundial de Saúde anunciou publicamente que cerca de 75 por cento das doenças nos países industrializados são diretamente provocadas pelo consumo excessivo de carnes e outros produtos de origem animal. Os dados estão ao alcance de todos.
Catarina sabe que o veganismo lhe dá um corpo bem nutrido e evita o recurso a medicamentos. “Há quem pense que por ser vegan tenho pouca força física.” Bem pelo contrário, diz a sorrir, “raramente fico doente, a carne é um alimento que nos deixa pesados porque demora muito a digerir e isso tira-nos energia”.
Danah Mor, terapeuta de nutrição e saúde holística, tem origem israelita e talvez por isso utilize uma roda dos alimentos bem diferente da que estudamos na escola. Os quatro ‘alimentos’ mais importantes são as relações interpessoais, a espiritualidade, a carreira e a atividade física. No centro está uma boa alimentação. Que, para Danah, deve ser à base de cereais e de vegetais. Danah é também vegan. Não impõe, nas consultas que dá, nenhum tipo de dieta, mas passa informação verdadeira, ou seja, não baseada em interesses económicos “porque o grande problema da nossa sociedade é pensarmos que estamos informados quando na realidade não estamos”. É importante que se saiba “que a maioria dos produtos animais não contém os benefícios nutritivos que teriam se os animais fossem criados de forma natural”. Ser vegan é, pois, escolher saúde.
“Oferece um sem-número de benefícios que vão até prevenir doenças”, explica Danah. E acrescenta: “Com a variedade que uma dieta vegan apresenta, com alimentos integrais, vegetais, cereais, frutos, legumes e nozes, há muitos casos de recuperação e de cura. Sabia que Bill Clinton salvou a sua saúde com uma dieta vegan?”, pergunta. Danah também já tem casos de cura em Portugal na sua lista de clientes. “Perda de peso, mais energia, controlo de alergias são apenas alguns dos benefícios.” Mas adverte: escolher ser vegan é uma escolha responsável. “A comida oferecida nos circuitos comerciais normais não está preocupada com os nutrientes necessários de uma dieta vegan, portanto, quando se dá o passo é preciso enveredar por novos ingredientes e alterar a lista de compras. Por exemplo, comer quinoa em vez de arroz, comer mais feijões e vegetais de folhas verdes, todos ótimas fontes de proteínas e vitaminas”, sugere Danah.
E não se preocupe se tem uma família para alimentar. Eles vão adorar. Nada melhor do que começar já a educá-los. A Associação Dietética Americana considera uma alimentação vegan bem planeada “apropriada para todos os ciclos da vida, incluindo gravidez e amamentação”. Danah questiona: “Se Portugal é o 4.º país do mundo com maior taxa de obesidade infantil, por que não escolher uma dieta que reverta estes números?” Qual é o futuro que deseja para os seus filhos?

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